Ação pró-cíclica da guerra e do BC

Apesar das promessas do presidente Lula, e como havíamos previsto, a situação econômica continua a agravar-se. A divulgação do Indice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado como prévia do crescimento do PIB, mostrou uma queda de 0,04% em janeiro. O BC aponta como responsável o declínio do setor de serviços. Isto é consequência da queda da confiança, da desaceleração do mercado de trabalho, do endividamento, da demanda fraca e das taxas de juros elevadas. Em fevereiro a indústria teve uma queda de 0,2%, sendo a terceira queda sucessiva depois de recuar 0,1% em dezembro e 0,3% em janeiro. Rafael Cagnin do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera que a indústria vem patinando e que não há sinais de crescimento. Economistas e analistas consideram que há uma conjuntura adversa para a indústria com a política monetária apertada, o endividamento das famílias, o investimento fraco e o cenário internacional difícil. Confirma-se assim a continuação da entrada na fase de crise do ciclo.

Como se isto não bastasse, temos a ação do Banco Central (BC). A situação do país assemelha-se a de o um barco onde uma parte dos remadores remasse para a frente (o governo quer que a economia cresça) e outra parte deles remasse para trás (o BC quer derrubar a economia, desacelerar). Já vimos aqui que os diretores do BC são movidos pela sua ideologia econômica fanática e pelos comandos emitidos pelo setor financeiro, de quem dependem graças à sua “independência”. O problema é que existe além disso a correnteza que empurra o barco para trás (a crise econômica) que favorece os remadores do atraso. Esta é a difícil situação em que se encontra o governo e que a equipe econômica tem que enfrentar.

A nível internacional os dados também apontam na direção da crise. Em entrevista concedida a Edward Luce do Financial Times, o ex-secretário do Tesouro dos EUA Hank Paulson mostrou sua preocupação com a crise financeira e com a política de restrições à China feita pelos EUA. Teme ele que o resultado desta política seja o crescente isolamento americano, o perigo da guerra e a recessão. “… acho provável que veremos uma recessão se você olhar para tudo que está acontecendo com o crédito”. E complementou sua afirmação: “Ela vai demorar um pouco para se manifestar”. Ele afirmou que a falência dos bancos Silvergate Bank, Silicon Valley Bank, Signature Bank e do Crédit Suisse “abalou a confiança” e que “jamais poderemos abolir as crises financeiras”. “Elas sempre acontecerão”.

O agravamento das condições de crédito, a desorganização do comércio mundial e das cadeias de valor e o aumento das tensões continuam comprometer a reestruturação da globalização tão necessária ao avanço do capitalismo. O FMI preocupado com a situação estima um crescimento de 3% para os próximos 5 anos, considerando que o período é o mais fraco em 3 décadas e conclama os países para evitarem a “fragmentação econômica” que prejudicará a todos.

É com este quadro de fundo que ocorrem as visitas de Lula à China, Portugal e Espanha. As declarações sobre a guerra Rússia-Ucrânia feitas na China eriçaram os pelos das velhas hienas da OTAN. EUA e União Europeia berraram em uníssono ameaças ao Brasil condenando as declarações do presidente classificando-as como reprodução do discurso russo. A histeria belicista é de tal ordem que não podem tolerar qualquer posição independente. Ou entra na guerra com o bloco ou é aliado dos russos, ou seja, é preciso ser papagaio da Otan.

E o berreiro internacional encontra eco no Brasil. Não só entre os partidos da oposição, mas também na imprensa. É quando se manifesta a fragilidade da frente que forma o governo. Não se fala da política agressiva da Otan, organização que deveria ter desaparecido conforme o acordo feito com o fim da URSS e do Pacto de Varsóvia, pois era uma organização militar para conter o comunismo. Com o fim do comunismo a Otan perdeu a razão de existir. O que ocorreu, no entanto, foi o contrário. Não só não desapareceu como expandiu-se em direção às fronteiras da Rússia. Apesar de todos os avisos dados pelos russos, insistiu em integrar os antigos países socialistas da Europa de Leste e, finalmente, a Ucrânia, depois de patrocinar um golpe de estado que depôs o presidente do país e instalou um governo pró-ocidental. É evidente que a Rússia não iria tolerar. Estes antecedentes não são considerados quando se fala dos culpados pela guerra,resultado das provocações dos EUA e seus aliados da Otan.

Como consequências temos esta desorganização de toda a ordem mundial além das mortes e destruição. Usam como bucha de canhão o povo ucraniano lançado na fogueira por bandos de fascistas e mercenários que perambulam como lixo pelos países da Europa. Os generais da OTAN, além de testar suas armas e queimar estoques inúteis acumulados, usam o território alheio e os outros para suas experiências e livram-se do lixo mercenário que aumenta o quadro dos desempregados em seus países.

Com este nível de tensão nunca estivemos tão próximos da catástrofe nuclear. E devemos esperar o agravamento da situação econômica mundial na qual se integrará a nossa débil economia. Lamentavelmente não temos boas notícias para nossos leitores, mas… esta é a realidade.