O nazifascimo, o bolsonarismo e a violência nas escolas

O bolsonarismo rompeu com uma cultura de paz que vinha sendo cultivada no Brasil com certa resistência de alguns setores da sociedade. Olhando para o passado, porém, percebe-se que o país sempre foi visceralmente o que se mostra nas redes sociais em postagens misóginas, racistas, homofóbicas etc. Um país cujos reflexos colonialistas se fazem ainda muito presentes e estruturalmente enraizados. No entanto, nos últimos anos isso se alastrou e tomou proporções gigantescas quando se estabeleceu como política o ódio às diferenças, aos periféricos, às mulheres, aos negros e a tudo que não faz parte da massa homogênea e nazifascista que compõe o bolsonarismo. De tal modo, o que está acontecendo hoje é reflexo dessa política do ódio, da política armamentista que estabeleceu, por sua vez, um projeto nazifascista no país, capilarizado, de forma metodologicamente organizada, através das redes sociais e aplicativos de mensagens.

O cenário que vemos no Brasil de ataques a escolas, a professores e estudantes é um dos caminhos de se propagar esse ódio que fortalece o nazifascismo; uma forma de aterrorizar, instalar o medo e desesperançar o coletivo, pois é no caos que o ódio se propaga. Embora esse sentimento nefasto estivesse presente na sociedade escravagista, burguesa, machista e colonialista desde a invasão portuguesa, o projeto da cultura do ódio, que já se tentou estabelecer em outros momentos no Brasil, dessa vez foi plantado lá em 2013 através dos xingamentos misóginos a ex-presidenta Dilma, se fortaleceu com o lavajatismo e tomou corpo a partir da grande mídia que pariu o antipetismo, tirou o bolsonarismo do submundo político, resultando na eleição da extrema direita em 2018.  A partir de então, o projeto da cultura de ódio buscou avançar para outros grupos e coletivos, estabelecendo-se uma necropolítica que foi cada vez tomando mais corpo e contaminando a sociedade, minando a esperança de muitos e a empatia de uma parcela significativa da sociedade.  

Uma porção indissociável de culpa em toda essa engrenagem de medo e ódio é, sem dúvida, o neopentecostalismo que, a partir do fundamentalismo de suas igrejas e rebanhos, “engrossaram o caldo” que alimentou o caos, disseminando o ódio as diferenças, a intolerância, o racismo religioso e propagando a violência a partir das armas de fogo “ungidas”, muitas vezes, por líderes religiosos, verdadeiros mercadores da fé!

Um fato incontestável é que a classe política da extrema direita pactuou com as igrejas fundamentalistas e nelas estão muitos saudosistas da ditadura e do integralismo, foram estes que basicamente elegeram Bolsonaro em 2018. Foram eles que ajudaram a parir o nazifascismo, culminando com os atos terroristas do fatídico 08 de janeiro de 2023 e agora com esse projeto de violência e caos. Nada é aleatório, é projeto! Na raiz desse projeto está a morte a democracia e o triunfo do autoritarismo! 

Em relação à Fé é sempre bom lembrar do Cristofascismo, termo criado pela teóloga alemã Doroyhee Solle, para descrever as igrejas alemãs que apoiaram o nazismo de Adolf Hitler, que teve como consequência o genocídio  de milhões de pessoas nos campos de concentração. No Brasil contemporâneo as igrejas fundamentalistas tentaram instalar uma teocracia velada apoiando o autoritarismo, a violência em todos os seus aspectos e uma política armamentista. Mas eles não ficaram apenas nas igrejas, conseguiram entrar nas casas, nas escolas, influenciando jovens de todas as idades e classes sociais na prática da cultura de ódio. Um dos métodos de propagação desse projeto foi a capilarização em redes sociais como facebook e twitter, além da distribuição em massa de mensagens de ódio e fake news em whatsapp e telegram.

Segundo o teólogo Fábio Py (2020), a “linguagem cristã do deus bélico e despótico tão importante para as grandes agências fundamentalistas americanas”, está ligada à logica do mercado e do neoliberalismo: o cristofascismo une moral cristã, racista e a discussão econômica ultraliberal de dissolução do estado, fomentando a teologia da prosperidade. De tal modo, quando o desespero bate à porta, os líderes religiosos fascistas se colocam à porta para tomar para si até a alma do cidadão mais desavisado. 

A questão que se coloca é: como reestabelecer a cultura de paz nesse momento? Diante do cenário da cultura de ódio fomentada pelo nazifascismo, dentro das igrejas, das escolas e que perpassa transversalmente toda sociedade através do bolsonarismo doentio, é preciso compreender a realidade para transformá-la: “Quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la” (FREIRE, 2011, p. 38). 

Certamente precisamos inicialmente de medidas contundentes como barreiras físicas e segurança, mas a paz que se almeja, perene e serena, só se estabelece a partir de ações educativas, afirmativas e inclusivas, através de uma educação libertadora que transforme as pessoas para a partir delas transformar a sociedade, como bem nos ensinou Paulo Freire. No esteio das mudanças necessárias, é preciso compreender que a religião é uma criação humana e que seus líderes são humanos, portanto, trazem consigo os vícios e os problemas aos quais a humanidade está fadada a sucumbir. A partir dessa compreensão é preciso desenvolver o pensamento crítico e o discernimento necessário para estabelecermos uma cultura de paz coletiva, com mais livros e menos armas.

É verdade que o bolsonarismo, através das redes de fake news, das igrejas fundamentalistas e de uma imprensa tendenciosa, ressuscitou velhas seitas maniqueíst, por isso, além das questões voltadas para uma educação libertadora que desperte o sentimento de empatia e alteridade, é preciso de ferramentas que regulem urgentemente as redes sociais e os meios de comunicação como emissoras de rádio e tv que propagam ódio, mentiras e que produzem o a segregação e o sectarismo de grupos e classes sociais, funcionando como verdadeiros aparelhos  ideológicos obstinados e inflexíveis na defesa de suas doutrinas.

Onde se fomenta a paz, não floresce o ódio, mas lembremos que para cultivar a paz e a democracia, é preciso vigilância constante. A paz exige de nós esforço e trabalho contínuo a partir de ações que algumas vezes suscitam controvérsias, mas as controvérsias fazem parte do diálogo respeitoso de uma sociedade democrática na qual se busca a paz e a equidade. Romper com o diálogo, com as polêmicas e interlocuções é estabelecer o autoritarismo e fomentar a cultura do ódio. E viver na cultura do ódio é perder nossa humanidade! 

 

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 14. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.

PY, Fábio. Cristofascismo, um dos filhos do neofascismo. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/616058-impulso-feminino-no-neofascismo-cristao-de-bolsonaro-quatro-cenas-recentes-de-inicio-do-ano-eleitoral-artigo-de-fabio-py. Acesso em 28 mar 2022