Os homens fazem a economia e a política

A equipe econômica do governo continua sua pregação otimista sobre crescimento. Desta vez foi o ministro Haddad que deitou discurso anunciando que “Estamos no caminho de deixar o Brasil pronto para decolar”. Continua confiando na aprovação, pelo congresso, do arcabouço fiscal e de outras medidas que o governo pretende propor. Apesar das derrotas já impostas pelo parlamento a equipe de ministros segue em frente. O pessoal da economia é o mais confiante. Parece que uma das características dos ministros da economia de todos os governos é a mentira. Todos acreditam na furada afirmação Keynesiana de que o crescimento é resultado dos investimentos dos empresários, que dependem das expectativas futuras que eles criam. Os ministros pensam que, com as mentiras, conseguem convencer os empresários que tudo vai bem. Pensam que assim eles conseguem fazer os empresários formarem “expectativas positivas” e decidir investir estimulando o crescimento. Creem que os movimentos da economia são resultado da vontade dos homens, empresários individuais ou no comando do estado.

Eis uma concepção subjetiva da realidade e um exemplo de idealismo filosófico: é o espírito (o pensamento) que cria a matéria. Esta concepção remonta a origem da própria economia como ciência. Na filosofia ela é ainda mais velha pois a economia é uma ciência muito jovem que só foi fundada com Adam Smith e David Ricardo, os criadores da teoria do valor-trabalho. Pretendo abordar este assunto em algum outro texto pois este já ficará longo demais.

A equipe do Hadad acredita que, com o aumento do salário-mínimo, serão injetados na economia R$9,5 bilhões e com a mudança da faixa do imposto de renda outros R$3,4 bilhões que animarão o consumo já impulsionado pelas alterações do bolsa família. Com efeito esta injeção de recursos será um estímulo ao aumento da demanda, mas temos na contramão os desestímulos causados pelas altas taxas de juros lideradas pela Selic de 13,75%, que o BC teimosamente manteve em sua última reunião, apesar de todas as pressões e manifestações dentro e fora do governo. A inflação é também outro fator negativo.

No panorama político as coisas também não estão fáceis. Depois da deselegância feita pelos líderes do agronegócio na Agrishow de Ribeirão Preto, quando os promotores convidaram Bolsonaro para a abertura e desconvidaram o ministro da agricultura, o que fez com que o governo não se fizesse representar na feira. Para acalmar os ânimos, foi criado um novo crédito para financiamento de máquinas agrícolas e das exportações.

Foi uma demonstração do nível de dificuldades que Lula terá de enfrentar. O mesmo ocorrerá nas negociações com o congresso reacionário, com um centrão corrupto além de uma bancada “bolsomínia” numerosa e grupos sociais hostis e fanatizados. O que está sendo demonstrado é que os bolsominions envidarão todos os esforços para criar todo tipo de dificuldades e deles se pode esperar qualquer canalhice, como como as que já estão sendo feitas. Neste terreno tem se destacado a brilhante atuação do Ministro Flávio Dino que tem sido a grande estrela desmoralizando os que se atrevem a provocá-lo.

Em relação aos dados econômicos a situação é muito confusa e contraditória. O Banco Central (BC) divulgou o seu índice IBC-Br para fevereiro que é um indicador antecedente para o PIB. Para surpresa geral este índice mostrou um crescimento de 3,32%, para fevereiro, em relação a janeiro. Os serviços cresceram 1,1% e o varejo caiu 0,1%. A produção industrial também caiu 0,2%. A produção de alimentos e bebidas, que havia crescido 9,2% em dezembro, teve uma desaceleração de 1,6% em fevereiro. A agroindústria que havia crescido 2,6% em dezembro decresceu 3,4% em fevereiro. Para o desemprego a taxa manteve-se em 8,8% e a renda média do trabalho cresceu. No entanto a inadimplência atingiu 20,7% dos consumidores. Diante do agravamento da situação internacional os analistas acreditam que esta situação tende a se agravar. Com efeito a guerra na Ucrânia mantem-se e amplia-se, com os países da OTAN cada vez mais histéricos e pressionando todos os países do mundo para os apoiarem. O Brasil continua sofrendo todo tipo de pressão para alterar sua posição de neutralidade.

Com o avanço das investigações sobre os atos de terrorismo praticados em Brasília e a apuração das responsabilidades, que envolvem militares de alta patente, a “milicada” comprometida arrepiou o pelo e as hienas começaram a mostrar os dentes. Torna-se cada vez mais claro que se estava tramando um golpe e que foi abortado pelo recuo do alto comando das Forças Armadas. No entanto, os comandantes dos quarteis que permitiram os acampamentos de terroristas e golpistas nas suas portas, e sob sua proteção, devem apresentar alguma explicação, particularmente o comandante do quartel de Brasília de onde partiram as tropas de choque que praticaram o vandalismo.

O comprometimento dos militares aumentou com a descobertas dos escândalos que envolvem contrabando de joias, apropriação do patrimônio público, falsificação de documentos, utilização de bens e imóveis do estado em benefício próprio etc. A situação das forças armadas vai se tornando cada dia mais desmoralizante. É difícil pensar em um crime que a canalha no governo não tenha cometido. E o tsunami de lama atinge os militares e mesmo os oficiais de alta patente. Até onde eles comprometerão sua dignidade e a honra das forças armadas na defesa de um reles “capitão” que, por eles mesmos foi expurgado de suas fileiras por incompetência? Ou será que optarão por afundar na lama junto com a canalha bolsonarista?

Se na política a solução dependerá da competência das forças mais conscientes que fazem parte do poder, na economia há que esperar, tentar conhecer as leis objetivas que a regem e buscar os instrumentos capazes de influir na sua evolução.

Foto: reprodução Ranking Político