Aqui, tensão entre os poderes; lá fora, além da guerra, Milei

Todo o mundo civilizado respirou com alívio diante da notícia de que, foi assinado um acordo, entre Israel e o Hamas, para a troca de prisioneiros, e o estabelecimento de uma trégua de alguns dias, para viabilizar a operação. Esperamos que os entendimentos tenham êxito. Parece que o governo Netaniahu foi obrigado a ceder, diante dos protestos das populações, dentro do país e no exterior. Internamente, os familiares e opositores de Netaniahu organizaram manifestações exigindo negociações para a libertação dos reféns o que parecia não importar ao governo. Os bombardeios e as ações militares por terra, continuavam destruindo tudo em Gaza, sem qualquer preocupação, se isto poderia atingir algum refém. A política seguida era de destruir tudo e a morte de qualquer inocente civil, mulher, criança ou refém, não passaria de “dano colateral”. Os manifestantes acusam o governo Netaniahu de ser responsável pela invasão do Hamas ao não prever que ela ocorreria e assim conseguir evitá-la.

Este, ainda é o grande assunto da semana pois, o implacável massacre do povo palestino continua, diante da passividade dos países do mundo. Os protestos começam a aumentar, com a expansão das perversidades cometidas pelo estado sionista de Israel. Como já referimos, em textos anteriores, os métodos utilizados por Israel aproximam-se dos métodos usados pelos exércitos nazistas e, em alguns aspectos, ultrapassam em crueldade. A propaganda sionista conseguiu vender a ideia do “direito de defesa de Israel” (o agressor tem direito de se defender), do direito de o “povo de deus” voltar para a “terra prometida”, além de explorar a culpa pelo holocausto. A consigna de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, diante do fato da terra ter um povo, para ser realizada, precisa que o povo da terra seja retirado. É o que eles estão fazendo. Com ingenuidade ou má fé, agem os que ainda não conseguiram entender, que este é o objetivo do estado sionista de Israel: remover ou exterminar a população palestina, da Palestina, para que ela se transforme em “uma terra sem povo” tornando-se a “terra prometida” para “o povo de deus”.

Diante disto, é legítimo supor que o ataque do Hamas ocorreu em um momento oportuno e pode ter tido por trás o dedo da inteligência israelita. Eles já foram capazes de treinar e armar o próprio Hamas, contra o Fatah e a OLP, quando isto lhes foi conveniente. Permanentemente fomentam todas as divergências entre árabes fornecendo dinheiro e armas a diferentes grupos rivais, sempre escudados no poderio dos EUA. Na atual guerra, mantendo-se fiel a sua tradição truculenta, Israel, mais uma vez, não cumpre as decisões da ONU e muito menos do Conselho de Segurança e, a muito custo, concordou com uma trégua suspendendo os bombardeios para a retirada das populações e a troca dos prisioneiros. Os prognósticos continuam muito negativos, mesmo com as pressões vindas de todos os lados.

Outro importante acontecimento da semana foi a eleição do presidente da Argentina. Para decepção geral o eleito foi o demente Xavier Milei, que consegue ser pior que o Bolsonaro. Com um discurso histérico e desequilibrado, conquistou o eleitorado desesperado com a difícil situação econômica do país e a descrença nos políticos. Espera-se agora o pior, embora se saiba que, dificilmente, serão implementadas, as promessas tresloucadas feitas por ele, entre as quais estão: acabar com o Banco Central, dolarizar a economia, acabar com a inflação, equilibrar o orçamento, romper relações com o Brasil e a China países apelidados de comunistas etc. Mais uma fonte de tensões e desequilíbrios para nossa tão sofrida América do Sul e que compromete o Mercosul, já condenado pelo novo presidente.

A atenção provocada por estes dois acontecimentos internacionais tirou do foco todas as demais preocupações, que tumultuam o panorama mundial. Voltemos então para as questões internas.

Continua a luta pelo orçamento, com o centrão e a direita procurando inviabilizar, de todos os modos, as iniciativas do governo, em sua tentativa de fazer crescer a economia. O esforço para manter o déficit primário zero é permanentemente sabotado. Há forte resistência em aprovar medidas para aumentar a receita, o que compromete o prometido equilíbrio fiscal. O parlamento tenta de todas as maneiras manter o controle sobre o orçamento, através das “emendas individuais e de bancada”. Querem agora criar mais um tipo de emendas: as de “bancadas temáticas”. Para isto será preciso transferir recursos de outros títulos para pagar estas emendas, consideradas de execução obrigatória.

Mas o congresso não está feliz em criar problemas apenas com o poder executivo. Agora resolveu arremeter também contra o poder judiciário, aprovando uma PEC tentando proibir a concessão de liminares por ministros da casa, que afetem a aplicação de leis aprovadas. Pretendem interferir no funcionamento do STF impondo-lhe normas. A aprovação no Senado já provocou pronunciamentos de vários ministros, repudiando a tentativa, e o Pacheco, presidente do senado, foi obrigado a proferir um discurso tentando justificar a decisão, o que aumentou ainda mais as tenções. Teremos mais uma semana de conflitos entre os poderes lembrando que a decisão do senado estará sujeita à apreciação de inconstitucionalidade pelo próprio STF.

Passando à economia, as perspectivas para o crescimento não são muito boas e a situação tende a deteriorar-se, no terceiro trimestre. Um dos sinais para isto é a queda da arrecadação de 0,34%, em setembro, a desaceleração do setor de serviços, a queda sazonal do agronegócio, a redução dos investimentos, e da produção industrial. No acumulado do ano, até setembro, esta já havia recuado 0,2%. Os únicos sinais favoráveis vieram do mercado de trabalho, que registrou uma taxa de desocupação de 7,7%, e do comportamento da inflação, que caiu para 0,24% em outubro, chegando o acumulado no ano a 4,82%, perto do teto da meta

Apesar de todo o esforço do governo, com todo o ruido internacional, as perspectivas para 2024 pioraram.

Teremos dificuldades.