O desastroso legado de Bolsonaro para a economia brasileira
Anisio de Carvalho Costa Neto –
De que a eleição de Bolsonaro significou a maior tragédia que se abateu na vida brasileira contemporânea, pouca gente disso não tem certeza – à exceção da sua legião de fanáticos -, mas aquilo que há de mais nefasto na sua gestão diz respeito exatamente ao que liberais e não liberais esperavam dele: uma guinada à extrema direita na atuação do Estado na Economia.
Bolsonaro acalentou sonhos de que as décadas de interferência estatal na economia, em prejuízo do desenvolvimento econômico brasileiro, passassem por uma mudança radical com privatizações, modernização do aparato estatal, redução dos gastos públicos e da burocracia para conduzir o país a um novo patamar de desenvolvimento.
Bolsonaro peca exatamente porque não governa como Bolsonaro. Cada dia mais se apresenta como a ressureição de Hugo Chaves, interferindo nas estatais, nomeando gestores para reforçar um populismo sedutor que se apresenta com muita força nessa onda ultradireitista que varreu boa parte do mundo.
Não é por menos que ele perde, cada vez mais, apoio entre a elite empresarial brasileira – decepcionada com a similitude que se enxerga entre ele e a esquerda recalcitrante -, enxergando em Bolsonaro uma versão tupiniquim do chavismo na Venezuela, com requintes de crueldade em função da sua incapacidade de enxergar o mundo com o mínimo de dignidade intelectual que o exercício do cargo que ocupa exige.
O governo Bolsonaro nesses quase dois anos e meio de aventura humana na terra foi incapaz de adotar uma medida sequer em direção à modernização da economia. Foi incapaz de lançar qualquer programa de reforma estruturante na base produtiva, a exemplo de aprovação de uma reforma tributária capaz de elevar a vulgar relação do Estado com os agentes econômicos a um nível mais civilizado.
É preciso entender que não há política de distribuição de renda para além do desenvolvimento econômico. Só ele é capaz de, ao mesmo tempo, reduzir os níveis de pobreza que, a olhos nus, se recrudescem, e mudar a faceta mais cruel das relações de troca internacionais das quais o Brasil participa.
É preciso ter em mente, e esperar-se-ia que um ultradireitista como Bolsonaro e sua equipe fossem capaz de enxergar, que não cabe mais a qualquer país do porte e da riqueza do Brasil um papel de coadjuvante no cenário do comércio exterior. Não é compatível com o Brasil sua posição de troca de navios de bananas por maletas de chip.
E, enquanto não estivermos preparados para modificar essa relação de trocas por uma em que os papeis sejam mais equilibrados entre as nações, estaremos fadados a receber as migalhas que sobram no contexto do comércio internacional.
Não há duvida, portanto, que essas mudanças não serão operadas pelo governo Bolsonaro. Ele só deve passar quatro anos à frente do Governo, mas sua gestão será responsável por uma estagnação de tal monta que podemos afirmar, sem medo de errar, que se comparará a uma nova década perdida.