O poeta e o ditador

Pablo Neruda, um dos maiores poetas da América Latina, faleceu há 50 anos, 12 dias após o golpe de Estado que matou a democracia chilena. A versão oficial indicou que ele havia sucumbido ao câncer de próstata. Pesquisas mais recentes afirmam que ele foi envenenado com a bactéria Clostridium botulinum por agentes da ditadura, comandada pelo general Augusto Pinochet.

Pablo Neruda nasceu em 1904 e lançou seu primeiro livro de poemas em 1923, com o título Crespusculário. Mas foi com a coletânea Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada que o jovem poeta consagrou-se no ambiente literário.

Com a obra Canto General, Neruda alcançou dimensão internacional. Nessas composições, ele traçou a épica história dos povos da América Latina através de poemas de paixão, fogo e tragédia. Pelo conjunto de sua obra, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Neruda também teve uma intensa participação política em prol dos trabalhadores do seu país. Quando veio o golpe de 1973, ele era senador pelo Partido Comunista Chileno.

O ditador Augusto Pinochet nasceu em 1915. Depois de ingressar no exército chileno, galgou todos os postos militares até alcançar o generalato. Quando jovem oficial, fez o curso de aperfeiçoamento na famigerada Escuela de las Américas, instituição militar financiada pelos Estados Unidos, responsável pela formação de milhares de torturadores na América Latina.

Pinochet comandou o Chile por 17 anos, entre 1973 e 1980. Durante sua ditadura, mais de 30 mil chilenos foram mortos e milhares torturados. Sem opositores no país, o neoliberalismo foi implantado com diminuição dos direitos sociais e internacionalização da economia.

Pablo Neruda e Augusto Pinochet são as duas faces da história da América Latina. O poeta socialista sonhou com terra, pão e paz para seu povo. O general ditador estabeleceu um feroz regime autoritário de terror que serviu de inspiração para muitas ditaduras latino-americanas. Cabe a cada um decidir qual modelo seguir.