O PSDB em seu labirinto

O partido dos tucanos enfrenta a maior crise da sua história. Protagonista nas eleições presidenciais durante duas décadas (de 1994 até 2014), o PSDB mergulhou numa barafunda de corrupção, intrigas e disputas internas que vieram à tona a partir da derrota de Aécio Neves para Dilma Rousseff (PT), na eleição presidencial de 2014. Em 2018, o candidato presidencial Geraldo Alckmin amargou míseros 4,76% dos votos e João Dória só ganhou o governo de São Paulo porque vinculou sua imagem a Jair Bolsonaro, no famigerado Bolsodoria.

O PSDB foi fundado em 1988 por um grupo de intelectuais e políticos dissidentes do PMDB, muitos deles cassados pelo regime militar. Entre os tucanos de “grande plumagem”, se projetaram no cenário nacional Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati, Mario Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. Com um programa social-democrata, o PSDB fixou-se no campo político de centro-direita.

No auge do seu sucesso, o PSDB governou os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraíba e ocupou o Palácio do Planalto com FHC, entre 1995 e 2003. De acordo com o TSE, o PSDB tem 1.354.901 filiados, sendo o terceiro maior partido do Brasil, ficando atrás do PMDB (2.125.665) e do PT (1.541.731).

A decadência do PSDB começou em 2014, logo depois da eleição presidencial. Naquele ano, Aécio Neves, inconformado com a derrota nas urnas, colocou sob suspeita o resultado das urnas. Naquele pleito, Dilma Rousseff (PT) teve 52% dos votos e Aécio Neves (PSDB) alcançou 48%. O questionamento levantou suspeitas sobre o processo eleitoral e alimentou o discurso bolsonarista em 2018.

Acusado de corrupção e acossado pela justiça, Aécio Neves aproximou-se de Jair Bolsonaro. Nas eleições para as presidências do Congresso Nacional, ocorridas em 2021, os parlamentares do PSDB a ele ligados apoiaram Rodrigo Pacheco para o Senado e Arthur Lira para a Câmara Federal. Os dois parlamentares, expoentes do Centrão, venceram e tornaram-se guardiões dos desmandos do presidente Bolsonaro.

Hoje, três políticos do PSDB disputam as prévias internas do partido para ser o candidato a presidente do país: João Doria (governador de São Paulo), Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul) e Arthur Virgílio (ex-prefeito de Manaus). O que deveria ser uma disputa nos moldes dos Estados Unidos, tornou-se uma rinha de galo: acusações de fraude, manobras de bastidores e fissuras dificilmente sanáveis.

O PSDB não é mais o mesmo. O intelectual FHC, respeitado internacionalmente, não tem nenhum poder de influência. Sua figura é meramente ornamentária. O jogo bruto da política, introduzido por Aécio Neves e exacerbado por João Doria, rachou definitivamente o partido.

Seja qual for o resultado da prévia eleitoral, o PSDB transformou-se numa agremiação tradicional, rejeitada pela população por suas manobras internas e falta de liderança nacional. O partido corre sério risco de ser mais uma sigla coadjuvante no cenário eleitoral brasileiro.