Uma nova Guerra Fria? O sistema Swift e a moeda chinesa

Entre as sanções econômicas contra a Rússia, promovidas por Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, em decorrência do conflito com a Ucrânia, está o bloqueio de bancos russos no sistema Swift, sigla em inglês para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication.

Com sede na Bélgica, o Swift foi criado em 1973 pelos Estados Unidos, em parceria com seus aliados europeus e trata-se de um sistema de comunicações financeiras, em substituição ao Telex. Hoje fazem parte do Swift 209 países e mais de 11 mil instituições financeiras. Ele funciona como um sistema de mensagem em tempo real, permitindo a bancos e empresas informarem sobre pagamos e negócios, todos realizados obrigatoriamente na moeda estadunidense.

Alimentos, combustíveis, medicamentos e vacinas, equipamentos, insumos, etc., todo o comércio exterior depende hoje do Swifit. Com isso, o dólar passa a ser uma arma política, para aplicar sanções a Estados e empresas. Além de permitir que os Estados Unidos apliquem em territórios estrangeiros as suas regras domésticas.

Em 2015, a China iniciou um sistema alternativo, o Cips, sigla para Cross-Border Interbank Payment System. Comparado com o Swift é ainda muito pequeno. Atualmente, o Cips conta com apenas 1.280 instituições financeiras distribuídas por 103 países.

Os números de crescimento, no entanto, são robustos. Em 2020, o Cips teve um crescimento de 30% no valor total das transações. Já em 2021, o aumento foi de 75%. E ao final deste ano, é provável que o veto à Rússia no Swift resulte em um novo substancial crescimento no sistema de comunicações financeiras sediado na China.

É neste sentido que vale a pena ficar de olho na possibilidade, ventilada nos últimos dias, da Arábia Saudita passar a vender petróleo à China na moeda do país asiático, o yaun. Seria um fato de grande relevância histórica. A China compra mais de 25% do petróleo da Arábia Saudita. Se esta operação se confirmar, não apenas amplia consideravelmente a força da moeda chinesa, como “coloca água no moinho” das mudanças de eixo na economia global. Segundo projeções do próprio governo chinês, entre 2027 e 2028 eles ultrapassarão os Estados Unidos como maior economia do mundo.

O fortalecimento do yaun e do Cips, pode gerar algum impacto na moeda estadunidense no mercado internacional, com efeitos a serem analisados no médio e longo prazo. No curto prazo, as sanções do Ocidente à Rússia podem provocar um efeito bumerangue, considerando o peso da commodities russas na União Europeia, tais como o ferro, o aço, cereais, fertilizantes e petróleo e combustíveis derivados.

O mais importante é que o conflito entre Rússia e Ucrânia pode provocar uma aceleração do surgimento de alternativas ao sistema Swift, ajudando a desenhar novos contornos geopolíticos para o século XXI. A conferir.