Mais dados confirmam a desaceleraçãoo

Três acontecimentos marcaram a semana. Como era de se esperar, o tresloucado fascista Milei começou a desdizer tudo que havia dito durante a campanha. Reconhecendo sua incompetência, transferiu a seu aliado Macri, também direitista, mas não louco, o comando econômico de seu governo. Como representante do capital, o ex-presidente Macri passou a ditar a nova ordem: nada de romper com o Brasil, nem com a China, nem vai acabar o Banco Central, não vai dolarizar a economia, não vai sair do Mercosul etc. Milei apressou-se a enviar um convite ao Lula, para sua posse, que foi recusado. Propõe reunir-se com a China, pois precisa de dólares. De qualquer forma, é de se prever dificuldades para a política na América do Sul.

Outro acontecimento importante foi a morte do Henry Kissinger, que foi secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional dos presidentes dos EUA, Nixon e Gerald Ford, além de servir como conselheiro e assessor internacional de vários outros governos, até sua morte, aos 100 anos. Hábil negociador, foi o grande construtor do fim da guerra do Vietnam, ganhando o Prêmio Nobel da Paz por isto. No que diz respeito à América Latina foi o assassino, a mente doentia que concebeu e orientou os golpes militares e as atrocidades cometidas no Brasil, Chile e Argentina. Ficou nos devendo todos estes crimes.

O terceiro acontecimento é a continuação do massacre do povo palestino, brutalidade em andamento pelo Estado nazista sionista de Israel, que está levando a guerra ao sul de Gaza, para onde empurrou toda a população, que agora não tem para onde ir. As atrocidades continuam a acontecer, com a conivência dos americanos e da União Europeia, que continuam tagarelando sobre o direito de defesa do agressor, contra os bárbaros do Hamas. Nada mais está fora do alcance dos bombardeios: escolas hospitais, igrejas, abrigos da ONU, residências, tudo virou alvo. Enquanto isto ocorre, a propaganda sionista tem sido tão ofensiva que, mesmo jornalistas com alguma credibilidade, sentem-se intimidados em condenar as brutalidades que estão sendo cometidas. Quando se sentem obrigados a fazer algum comentário, dedicam o dobro do tempo a criticar os terroristas do Hamas. São lamentáveis, ainda, as atitudes de entidades judaicas no Brasil, as quais, comprometendo-se com o governo do corrupto e assassino de Netanyahu, continuam a emitir comunicados em defesa do Estado de Israel, endossando a política sionista de extermínio da população palestina.

Feitos estes comentários passemos às questões econômicas. Para nós que trabalhamos com a análise de conjuntura são importantes os acontecimentos do dia a dia. Como a evolução da economia é dinâmica, as coisas podem mudar de um momento para outro. E quando ocorrem fatos que, embora não econômicos, influem nos fenômenos econômicos, as coisas tornam-se ainda mais complexas. Mesmo fazendo críticas ao modo como são calculadas as estatísticas, temos de nos basear nos dados que são publicados pelos órgãos oficiais como o IBGE, o Ipea, o Banco Central etc.

Na semana passada o Professor Lucas Milanez, em análise publicada no blog do Progeb (progeb.blogspot.com), apresentou dados mostrando como a lei dos ciclos econômicos continua comandando a evolução da economia mundial e, consequentemente, a brasileira. Como a fase de crise passada não cumpriu seu papel saneador, ela deve prolongar-se agora.

Os dados mais recentes, referentes ao terceiro trimestre do ano, mostram este processo. Segundo estes dados, o Produto Interno Bruto (PIB), no terceiro trimestre, em relação ao segundo, cresceu apenas 0,1%. Os serviços e a indústria cresceram 0,6%, cada um, e o consumo das famílias cresceu 1,1%, o que foi responsável pelo crescimento dos serviços. O crescimento de 1,1% no consumo das famílias foi impulsionado pelas políticas de transferência de renda, pelo aumento real do salário-mínimo, pela queda da inflação (de junho de 2022 a junho de 2023 o IPCA caiu de 12% para 3%), pela queda da taxa de desemprego, que chegou a 7,6%, e pelo saldo de crédito, que cresceu 10%, em 12 meses. A agropecuária teve um “crescimento negativo”, isto é, decresceu -3,3%. A construção civil também decresceu -3,8%, e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) caiu -2,5%. Esta é a parte mais negativa dos dados. Este quadro fez com que o Ministério da Fazenda revisasse suas estimativas de crescimento do PIB, para este ano, de 3,2%, para 3,0%.

A queda da FBCF é o dado mais preocupante. Como sabemos, a FBCF é o indicador dos investimentos e estes são os grandes responsáveis pela decolagem da economia. Quando a demanda por bens de consumo cresce, os empresários que produzem estes bens pensam em investir para aumentar a produção. É desta decisão que vem o aumento da demanda por máquinas e equipamentos. É o aumento desta demanda, que estimula o setor produtor destes bens (que nós chamamos de “meios de produção”), a aumentar também os seus investimentos, contratando novos trabalhadores. Estes novos trabalhadores, diferentemente dos que trabalham na indústria de bens de consumo, não consomem o que produzem e, portanto, provocarão o aumento da demanda por bens de consumo, servindo de novo estímulo ao setor que os produz. Eis formada a bola de neve que leva a economia à decolagem.

Com os investimentos em queda, este efeito positivo não será sentido. A contração mostra que os empresários estão prevendo a desaceleração, e a consequente queda na demanda, e não pretendem aumentar a produção.

Se olharmos a realidade internacional, o ambiente também é desanimador. Embora as estimativas de recessão tenham diminuído, aumentam cada vez mais as previsões de “pouso suave” para a economia mundial. A Comissão Europeia reduziu sua previsão de crescimento para a União Europeia de 0,8%, para 0,6%, em 2023. A Alemanha deverá ter uma contração de -0,5%. Para este ano, o FMI prevê que o mundo crescerá 3%, e no próximo 2,9%.

Na América Latina, a Argentina encontra-se em total desorganização, o México deve desacelerar de 3,2%, em 2023, para 2,1%, em 2024. Por aqui, o governo também prevê desaceleração. E não teremos condições de reverter este quadro, sem falar nas sabotagens que temos de enfrentar na Câmara e Senado.

Mais uma vez, todos os olhares se voltam para a China que, infelizmente, enfrenta também seus problemas, principalmente no setor imobiliário.

Não são boas as expectativas para o novo ano de 2024.

 

Foto: Shutterstock